O encontro no corredor

Beatriz trabalhava há meses no supermercado, mas o seu encontro com Ricardo, um dos caixas, foi algo que ela nunca esqueceria. Desde o seu primeiro dia, ele sempre teve um sorriso simpático e uma maneira de fazer o trabalho parecer mais leve, como se a rotina se tornasse mais suportável na sua companhia.

Naquela tarde, Beatriz estava no corredor das bebidas, organizando as prateleiras quando Ricardo apareceu. Ele passou por ela, como quem não quer nada, mas fez questão de parar. Olhou-a com um sorriso fácil e, com uma voz suave, disse:

— Precisas de ajuda com isso?

Beatriz olhou para ele, um pouco surpresa, mas aceitou de imediato. Já tinha o trabalho todo quase feito, mas não queria dispensar a companhia de Ricardo. Ele pegou em algumas garrafas, organizando-as, enquanto trocavam algumas palavras.

— Não te vejo muito, é sempre a correr, não é? — disse Ricardo, com um olhar curioso.

Beatriz sorriu, ajeitando a franja, sentindo-se um pouco nervosa pela proximidade. Os dois trabalharam juntos por mais alguns minutos, sem pressa, como se o tempo tivesse desacelerado ao seu redor. Ela percebeu que Ricardo tinha um jeito calmo e tranquilo que lhe fazia bem, e começou a notar os pequenos gestos, como ele empurrando suavemente as garrafas para arrumar tudo com perfeição.

— Estás a fazer uma excelente organização — comentou ela, admirada.

— Só não me pegas a fazer isso mais vezes, ou vou começar a achar que é um convite para mais tarde, — disse Ricardo com um sorriso travesso.

Beatriz riu, a tensão no ar dissipando-se. Não havia nada de mais no que estava a acontecer. Era apenas um momento, uma troca simples entre colegas, mas, na sua cabeça, aquilo parecia diferente. Algo na maneira como ele a olhava, ou talvez a familiaridade com que conversavam, fazia com que o ambiente do supermercado não fosse mais o mesmo.

Depois de alguns minutos, terminaram o trabalho. Beatriz agradeceu a ajuda, e Ricardo acenou com um sorriso.

— Não precisas de agradecer. E, se precisares de mais alguma coisa, já sabes onde me encontrar.

Com um aceno de cabeça, Beatriz voltou ao seu posto. Mas, naquele pequeno gesto, algo parecia ter mudado. O ambiente de trabalho, até então comum e corriqueiro, agora parecia cheio de novas possibilidades e uma curiosidade mútua que, sem querer, ambos estavam a descobrir.