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Maré Quente na Madeira

Publicado em 3 de Maio de 2025 por Mafalda

O sol acariciava-me a pele com aquela intensidade morna e doce que só a Madeira sabe oferecer. Estava de férias, sozinha, depois de um ano puxado em Lisboa. Precisava de ar, de paz… ou talvez de qualquer coisa que ainda não sabia nomear.

Conheci-os no segundo dia. Élise e Mathieu, um casal francês hospedado no mesmo hotel boutique que eu, em Santana. Ela, de olhos âmbar e cabelo curto, com um ar de quem sabe exactamente o efeito que causa. Ele, sereno, com uma barba bem desenhada e um sorriso meio trocista que me intrigou desde logo.

A aproximação foi natural. Um jantar partilhado por acaso, uma mesa quase cheia, dois lugares vagos ao meu lado e um “bonsoir” simpático. A conversa começou de forma banal, mas rapidamente ganhámos ritmo. Falámos de vinhos, das levadas, do mar revolto e das pequenas maravilhas escondidas pela ilha. Quando dei por mim, já era madrugada, e estávamos os três no terraço, a beber o resto do vinho.

Élise aproximou-se de mim com uma naturalidade desconcertante. O seu perfume — floral, com um toque amadeirado — misturava-se com o cheiro húmido da noite madeirense. Sentou-se junto a mim, os joelhos a tocarem-se, os olhos dela fixos nos meus.

— Sabes, Mafalda… — disse, com aquele sotaque francês envolvente — tens uma energia diferente. Sentimos isso desde o primeiro olhar.

Fiquei sem saber o que dizer. Sorri, ligeiramente corada. Pensei que talvez fosse o vinho, mas havia algo mais.

Eles estavam perfeitamente sincronizados — olhares subtis, gestos que se completavam. E, quase sem perceber, deixei-me levar. Aceitei o convite para subir ao quarto deles, “para vermos as estrelas da varanda”, disseram.

A varanda dava para o mar. E para o céu, sim. Mas depressa nos esquecemos das estrelas.

Mathieu foi o primeiro a tocar-me, com uma delicadeza que me arrepiou. Os seus dedos percorriam-me devagar, enquanto Élise sussurrava palavras em francês que não compreendia, mas que me acendiam por dentro. As mãos dela exploravam-me com curiosidade e desejo, como se me lesse através do toque.

Nunca tinha estado com uma mulher. Muito menos com um casal. Mas não havia hesitação. Só entrega. Só desejo.

A roupa foi caindo entre beijos intensos e risos contidos. Éramos três corpos em sintonia, um jogo de pele, calor e prazer partilhado. A noite foi feita de gemidos baixos, toques intensos e suspiros murmurados. Ali, naquela cama, deixei de ser só eu. Fui nós.

De manhã, estávamos os três entrelaçados nos lençóis, saciados e em silêncio, enquanto o sol entrava tímido pelas janelas. O mar continuava lá em baixo, a bater nas rochas com a mesma força que tínhamos sentido umas horas antes.

Sorri. Aquela viagem à Madeira não seria apenas mais umas férias.
Seria um segredo. Um fogo. Uma memória gravada na pele.

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