Hoje foi um daqueles dias em que o tempo pareceu arrastar-se. A loja cheia, o barulho constante e aquele calor abafado dentro do uniforme.
Estava no corredor dos produtos de limpeza quando Miguel passou por mim apressado, empurrando um carrinho de reposição. Sem querer — ou talvez querendo — roçou a mão na minha ao pegar numa embalagem. Foi rápido, mas senti. Um toque leve, quente, que ficou a queimar por segundos depois.
Ele olhou-me de lado, com aquele sorriso meio enigmático.
— Desculpa… — disse, mas com um olhar que dizia tudo, menos desculpa.
— Acontece… — respondi, tentando parecer indiferente.
Mas não consegui evitar o sorriso cúmplice que se formou nos meus lábios. Só nós sabíamos que, naquele gesto tão banal, havia algo mais. Um segredo silencioso a crescer entre caixas, corredores e olhares não ditos.
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